terça-feira, dezembro 1

DE MENTE NA MÃO (a pensar-te)

imagem retirada do google

Tenho a mente na mão a pensar as formas da tua alma...
Traço palavras em branco, não me atrevo a esforçar-me mais,
Seria infrutífero.
Pudesse eu traduzir teu sorriso indecifrável,
contornar o brilho que emanas de teu olhar sem qualquer sombra.
Pudesse eu ser espelho e arriscar reproduzir-te sem falhas,
aspirar ser lago limpo e transparente e fazer de ti lua, altiva, imponente, omnipresente...

Ao alcance dos meus olhos...

quarta-feira, novembro 11

Gosto de ti


porque consegues ver cores no vento


e eu consigo ver o vento


através dos teus olhos.

quarta-feira, outubro 28

CENTÉSIMO PRIMEIRO POST
Esta é a centésima primeira publicação. Cem ficaram para trás. Muitos sorrisos, lágrimas escondidas, diversos estados de almas, frases simples, momentos complexos, incoerências, espaços em branco, imagens, enfim, tudo o que me apeteceu.. Já tem alguns anos esta página que se vai compondo. Muitas vezes as publicações surgiram irregulares, porque não me obrigo a escrever ou a partilhar, é uma questão de vontade, muitas vezes de preguiça (não mental, são os dedos que se inibem).
Sinto-me abençoado por estar aqui. Aqui onde as palavras se cruzam e me permitem iludir-me nesse sonho de que as posso agarrar.
Também gosto que tu que me lês agora estejas aqui. Preenches-me a página e por isso agradeço a tua presença. OBRIGADO

_________________________

Há alguns meses ofereceram-me um Caderno de Fernando Pessoa, é um pequeno bloco de notas, ilustradas página sim página não com frases de Fernando Pessoa, e tinha a seguinte dedicatória;
"Quem mais do que Fernando Pessoa para te ajudar a:
caçar palavras no ar,
escrever palavras avulsas,
encaixar palavras,
ordená-las e desordená-las
Porque:
palavras são sementes de imaginação.
Colocas nas palavras pedaços da tua alma.
Palavras nunca são vazias,
palavras marcam, são poderosas,
palavras cativam, prendem,
palavras amparam... cativam..."

terça-feira, outubro 27

TÍTULO POR DEFINIR
(está silenciado)

Esse silêncio em que te calas enfraquece-me, faz-me vestir pele de humano, nem de grego nem de caboverdeano, nem de qualquer outro Deus de um mundo por descobrir.
Fico impotente por não poder dar ritmo à expressão do teu sorriso, por não poder desenlaçar o teu abraço em mim.
Fico pequenino, do tamanho de uma nuvem sem contéudo, a desvanecer-se em nada...
Fico papel em branco...
À espera que me preenchas...

segunda-feira, outubro 26



MOMENTOS

Ainda que meu corpo seja uma fortaleza, que a minha mente seja muralha intransponível e a força do tempo insuficiente para limitar a elasticidade das minhas crenças irei considerar-me sempre fraco e isso é tudo o que preciso para poder evoluir de forma constante, ser um projecto de crescimento ininterrupto, um processo que ostenta a morte como sombra...


E terei sempre as costas largas.

terça-feira, outubro 20

ASPIRAÇÃO



Quero escrever o mundo com as mãos,
usar o sangue como tinta e sangrar desalmadamente.
Sangrar a alma pela ponta dos dedos.

Quero esgotar hipóteses em intensidade,
inventar e reinventar sensações.
Cansar as pernas por sentir liberdade.

Quero olhar tudo em linha recta,
desmistificar atalhos e desnudar os ângulos mortos.
Ter nos olhos lágrimas que espelham todas as perspectivas.

Aspiração

Ser genuinidade em cada passo, sentimento em cada respirar.
Não ser ninguém mais que não eu próprio.
SONHO
Tenho (para deixar à tua porta) convite para partilha de um sonho.
Não tem hora marcada,
tem o tempo todo,
será eterno ainda que dure segundos.
Já o pintei em rascunho,
testei todos os traços,
misturei todas as cores.
O fundo é branco, cor de perfeição,
está intacto.
Podemos entrar de mãos dadas,
se quiseres.
Poderás adormecer em meu abraço,
acordar onde minha alma tem o centro,
onde tudo acontece...
Faz-te real aqui.
Espero ansiosamente...

terça-feira, outubro 13

SORRIR

Sorriso; o grande fundamento das nossas vidas.

Ostento esta fachada alegre, imponente, altiva e inquebrável, como se eu fosse uma criança (ingénua). Por baixo dela não existem ressentimentos, fissuras, que possam fazê-la abanar e ir contra a natureza de um sorrir que se liberta em processo, ininterruptamente...
Quero o mundo inteiro assim...

domingo, outubro 11

VIDA

Acordou-me uma insónia esta madrugada e, insistente, ousou permancer. Acendi a televisão porque tenho sempre o comando ao lado pronto a disparar para a televisão e a imagem é o fim de um filme que não chego a identificar, confesso que meio ensonado também não me esforcei muito. Retive apenas as palavras escritas na legenda: "A vida é muito semelhante à morte, acontece a todos, quer nos agrade ou não". Apressei-me a registar no telemovel antes que a insconsciência me dominasse. Poderia acrescentar; A vida é muito semelhante à morte, acontece a todos, quer nos agrade ou não, quer acreditemos nela ou não, quer estejamos preparados ou não.

Carpe diem always

segunda-feira, outubro 5

ILHA À VISTA!

Eu quero olhar-te e sentir que a distância se extingue,

que os centímetros se encurtam,

que o tempo se apaga,

que desfaz-se o vazio,

que o futuro está próximo.





Chegará descalço,

nú e apressado,
apertado em mim,

sem se soltar de nós.
Vai ser abraçado,
o elo esperado,

para unir minha alma à tua,

para libertar a ansiedade,

prender a pele à pele.



Calar as palavras...

segunda-feira, setembro 7

CAMUFLAGEM


Camuflado pelo silêncio,
disfarçado com pele de tempo a acelerar,
abraçado pela noite sem que exista madrugada,
de olhos postos no nada, como se fosse de propósito,
coração fechado com cadeados de indiferença,
positivismo aparantemente coxo, sem avançar,
estendido no chão, por baixo da alma imóvel,
a vida inerte, petrificada...

Feito ponte quebrada a desunir margens,
cinzento a eliminar as certezas que eram branco ou preto.
Fim de estrada sem saída ou beco estreito sem atalhos,escolher ser um ou outro é de igual forma inexistir de todo.

Ser assim sem sentido faz parte, fechar os olhos para entrar no escuro faz parte,
ditribuir passos desordenados de razão faz parte, ser um pouco perdido faz parte,
reencontrar-me no sonho dos teus abraços a qualquer hora do dia faz parte.

Disfaçar-me de silêncio não é traço que me complete a tela,
vestir-me de medo seria normal se me sentisse o frio,
disfarçar-me de frio é auto-condenação...

Estar aqui, neste ponto, neste cume, neste espaço poderia ser definição de esquizofrenia mas isso tem consciência?
Tenho-a eu?
Não quero possuir nada, nem a ilusão da consciência, nem a ilusão da sua ausência, chegar-me-ia a doce da loucura se me chegasse a alimentar pelos teus lábios.
Abre-me o teu abraço, penetra a tua alma em mim,
faz-te parede que me sustém e me dá firmeza...
faz-me diluir em confusão... outra confusão que não esta...

sábado, setembro 5

DRAMATISMO

Alguém me elucide se isto é ironia.
Quis amordaçar palavras e consegui. Tarefa bem sucedida. Vivi de alma amordaçada, de coração silenciado de olhar sem expressão e escondi-me no tempo.
Agora busco-as em mim, em cada centímetro, dentro e fora, as palavras e a sensibilidade e... nada. Vazio.
Se escrevo é com esforço, se sinto, é por arrasto, se vivo é por mera questão de sobrevivência. Pelo menos agora, neste instante que é o que me possui... É por aqui que vou ficar preso por agora.
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Engraçado:Conversa por sms da amiga loira Lígia com outra pessoa: Ela diz; Como estás? Já sei, tranquilo :-), mas se precisares de falar tás à vontade. Outra pessoa responde; Lol, tranquilamente com uma dor sem voz e com gritos sem rosto... Com dor a contornar o sorriso cheio de cores... :-)
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Eu Flávio, o que eu gostava era de ser como Pessoa e beber absinto sentado na esplanada do Rossio enquanto fumava ópio em grande quantidade, ter a loucura como fundo e ter momentos em que me pudesse esquecer do universo. Porquê? Porque "o Universo não é uma ideia minha. A minha ideia do Universo é que é uma ideia minha, a noite não anoitece pelos meus olhos, a minha ideia da noite é que anoitece por meus olhos. Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos, a noite anoitece concretamente e o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso." - (Fernando Pessoa)

quarta-feira, julho 22

CARPE DIEM ALWAYS

Sou optimista :-).. Rio-me sozinho. Rio-me de mim próprio e não admito outra coisa que não isso. "Infelicidade não é actractiva", dizem... Falta saber o que atrair e se ao chegar me atrai também. Enfim, um passo de cada vez.

Sou optimista, hoje a chuva apareceu de repente mas só sinto calor, respiro um ar abafado e sopra uma leve brisa.

Sou optimista, embora me acompanhe a desconfiança na pele, embora o meu olhar espelhe cepticismo e tenha no corpo todo pingos da chuva a tocar-me sinto cores do arco-íris ao longe...E há renovação de cenas em marcha, pronto, talvez em marcha não, noutro estado qualquer que signifique existir.

Empacotou-se sonhos que se arrastavam e colocou-se no armário fechado a sete chaves que raramente se abre, onde a ilusão está aconhegada no seu escuro e abriu-se os olhos.. é assim que se deixa os sonhos, abre-se os olhos e lá vão eles, não importa o tempo que os tivemos activos.

Acho que o meu mal foi sempre ter dado primazia à realidade, acredito que o mundo tem mais do que as 7 maravilhas conhecidas, só perdi uma. E se sou sonho desfeito em pedaços, em puzzles ou em espelho partido com uma imagem meio indefinida como que para sempre é porque sou culpado.

A sentença será sempre viver, o que é um paradoxo gigante mas para o qual estarei à altura...Carpe diem always ;-)
PEÇO DESCULPA

Ficaram muitos comentários por publicar.
Desculpem se os desrespeitei de alguma forma ao tirar-vos voz.

Abraço a todos e um grande obrigado.

domingo, junho 7

LUTO

Suicido em mim as palavras por tempo indeterminado.

Desinfecto as minhas mãos.
FAÇA-SE SILÊNCIO...

Ás vezes irrita-me conseguir escrever como agora.

Não quero, não quero despir-me em palavras.

Não quero ser decifrado, não quero ser alvo de interpretação.

Quero torná-las mudas,

não quero ser dominado, violado, controlado.

Quero estar um pouco só.

Envolto em silêncio, pintado de analfabeto.

Quero ficar aqui, neste escuro, não quero que me gritem pelos dedos.

Deixem-me quieto.
Está frio aqui.

Por favor.

Não quero saber.

Dói.

quarta-feira, maio 27

S U B M I S S Ã O . . .

Quero as tuas mãos atadas atrás das costas,

MELHOR...

Quero a tua alma inteira atada às minhas mãos...

O CORPO...

Que trema, ao avanço dos meus desejos...

SUBMISSA...

Desfaz-te em liquidez,


GELADO...

a escorrer-me pela boca...

quinta-feira, maio 21

DOGMA

E se eu existisse sem alma,
fosse assim...
só corpo, veias em ebulição,...
sangue a fervilhar, só vermelho em carne, sem sentir.
E se eu fosse só pele a tremer, ritmo sufocado, dobrado em nervos.

E se eu fosse decifrável? Transparente como me querem?
Se me ajoelhasse e fizesse do mundo o meu altar,
se meus pecados fossem eco soprado pelos quatro ventos?
E se eu pudesse ser desmembrado pelo olhar mais inocente,
se fosse a minha nudez vulnerável a qualquer toque...

E se eu existisse como um dogma?
CANSAÇO

"Há um cansaço da inteligência abstracta, e é o mais horroroso dos cansaços. Não pesa como o cansaço do corpo, nem inquieta como o cansaço do conhecimento e da emoção. É um peso da consciência do mundo, um não poder respirar da alma"

Fernando Pessoa; "Autobiografia sem Factos"

sábado, maio 16

URGÊNCIA

Quero-te com urgência como se o tempo se esgotasse.
Como se o amanhã se estivesse a desvanecer
encostado a uma parede qualquer pintada de cobardia.
Quero-te com urgência, como se me faltasse o ar,
como se tivesses que fazer das tuas mãos lâmina,
rasgar-me a pele para dar ritmo ao meu respirar.

Quero-te com urgência agora,
mesmo que seja escuro.
Só é noite sem teus lábios acesos em mim...
Quero AGORA, unir-me a ti como peça de um puzzle,
quero SER contigo.

Quero viver-te por trás porque os anjos não têm costas.
Morder-te para sobreviver não te faz mal...
Quero agora.

sábado, maio 9

ESCREVER

Gosto de escrever porque as palavras permitem-me fazer delas o que quiser, não é que não goste de uma boa luta de vez em quando, não é que queira sempre controlar tudo mas sim porque a passividade que as preenche permite-me reinventá-las ao sabor da minha imaginação. Porque posso personificar o mundo inteiro e todas as coisas e atribuir-lhes características, dar-lhes sentimentos e estados de alma. E isso só depende das asas da minha imaginação, depende do seu tamanho e de até onde conseguem voar.

Gosto de escrever imaginando porque assim não preciso de regras. Como nunca mas ensinaram e nunca me obriguei a aprendê-las sou inocente. Sinto que a minha imaginação é por isso mais importante que esse conhecimento, porque imaginando, inventando e reinventando vou confundindo, e confundindo não sou percebido, ás vezes nem eu mesmo me percebo, e por não perceberem pensam sempre que sei muito.

Gosto de imaginar muito.

sexta-feira, maio 8

TIMIDEZ

No teu olhar a minha timidez ganha forma.
O tempo concede-me o passado e refugio-me nele.
Escondo-me feito criança envergonhada,
quer o doce, não pede, mas dá a entender.

Baixo os olhos, estendendo-os ao nível do chão,
já sou arrepios à volta da alma,
sou pele suada a arder em vulnerabilidade,
a personificação da própria inércia.

Teu olhar é arma que dispara sem balas,
é a ponte para o outro lado da minha nudez,
vive aí a fragilidade, no meio do escuro
onde divide o quarto com a inoperância.

Está frio aqui, neste querer tocar-te,
perdida a batalha, porque falta a convicção,
amordaçado no peito o grito do desejo.

Um dia deixarei de ser criança,
vou esbarrar o meu olhar no teu e esvair-me em firmeza.
Não será hoje... Hoje sou todo timidez.

terça-feira, maio 5

TEMPO

Quero um corpo para o tempo.
um rosto que lhe faça sentir VERGONHA,
braços que conheçam a AUSÊNCIA de um abraço,
olhos que CHOREM de saudade,
pernas para querer chegar e NÃO PODER....

Quero que o tempo tenha alma,
QUE SINTA PENA,
que sangre de REMORSOS.
que lhe DOA a existência toda,
que GRITE de SOLIDÃO...

Quero o tempo em CORPO e ALMA,
para o JULGAR, QUESTIONAR E CONDENAR.
para o APRISIONAR,

Quero ESTAR LIVRE do tempo...

quarta-feira, abril 29

NOVO BLOG

SAIR da PRATELEIRA

http://www.sairdaprateleira.blogspot.com/

Apeteceu-me...

Porque tenho uma vida banal de sol a sol, entre o escuro e a lua...

Eu bem disse que não era todo poesia... Não posso ser só poema...

Não é que seja mau mas é só uma coisa... posso ser mais?

Quero esvair-me em pensamento pelo mundo...

Desculpem se incomodo...

Acompanhem-me.

domingo, abril 26

FAZER-TE O AMOR

Quero fazer-te o amor enquanto dormes. Agora.
Neste instante de tempo, este presente, este existires,
neste minuto que passou, neste viver-te que sinto.
Tenho o olhar em ti e é o momento certo.
Afasta esse lençol quente de tua presença,
a minha pele é a seguir.
Melhor, deixa que eu afasto, continua adormecida em sonho,
permanece assim, quieta, eu farei tudo.
Serei eu a despir-te essa roupa interior minúscula,
a do corpo porque a da alma despe-te o sono.

Quero humedecer-te os centímetros do corpo com desejo,
soprar-te com a boca ansiosa a loucura adiada,
abraçar-te como se não houvessem mais segundos,
como se em nós tudo fosse primeiros.
O primeiro beijo, o primeiro toque, o primeiro sentir,
a primeira vez...
Lembras-te?


Quero fazer-te o amor enquanto dormes porque é sonho.
Quero fazer do meu corpo boleia para as tuas nuvens e que não pares.
Quero dar-te o céu embrulhado na horizontal, ou na vertical ou tanto faz...
tens preferência pela posição ou forma da intensidade?
Eu só quero respirá-la... Quero-te a toda a intensidade.

Quero fazer-te o amor enquanto dormes e deixar descansar a realidade...
Sejamos noite, que sejas o escuro e eu a tua sombra...
ELOGIO AO AMOR PURO

"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição.. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É anossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Miguel Esteves Cardoso

segunda-feira, março 23

ODE À ILHA


Tenho uma ilha,
o meu lar,
um lugar onde não cabe o mundo inteiro,
onde encaixo-me eu e todos os meus pedaços,
onde respiro paz ,
onde o sol não se esgota,
onde a chuva cai em ritmo de optimismo.
Baptizei-a de Marlene Fernandes,
nome que lhe sorri perfeitamente.:-)
Tem um abraço que me arrepia a alma inteira,
que conforta, protege e inebria.
É uma ilha em forma de mulher,
é quente e brilha nas suas formas sexy inconfundíveis.
Tem um olhar que me despe sem tocar,
veste alegria que contagia a sombra do próprio negro
e faz cócegas ao mais taciturno ser.
Na ilha o vento tem sopros de tranquilidade,
tem rasgos de imaginação ferozes,
tem beijos melosos que contornam o tempo.
A minha ilha é o mais próximo que estarei do céu,
tem faróis de positivismo que não se apagam,
onde tempestades temem escurecer.
A minha ilha é paraíso onde a ilusão de perfeição impera,
um local onde tudo tem cores de intensidade.
Amo a minha ilha, e, frequentemente,
distraído, volto a apaixonar-me,
e todas essas viagens têm sabor de primeira vez,
sabem a inocência de criança feliz por descobrir,
sem receios, sem pontos de interrogação, só reticências...
Essa certeza de que é só começo, que há muito mais, que és muito mais,
e que posso ser muito mais... contigo...
Permitam que me perca na minha ilha... Estarei feliz...

domingo, março 22

DECLARAÇÃO

"Eu reconheço o amor quando o vejo..."

terça-feira, março 10

LUCÊMIO LOPES

"Não sei se minh'alma nasceu para escrever. Só sei que se não escrever, ela morre"

NEGAÇÃO

Não sou todo poema.
O meu corpo não é só feito de rimas
nem de palavras cúmplices unidas em abraço.
Não saio à rua vestido de metáforas todos os dias.
Não estou sempre calçado de utopias.
Os meus olhos não são versos abertos como se não houvesse noite.
Não sou espelho de inocência pura.
Não sou ingenuidade a movimentar-se em transparência.

Não sou muito mais que isto... Estas reticências...
que se vão repetindo...

terça-feira, fevereiro 24

AMOR À FRENTE DOS OLHOS

Vejo o amor à minha frente,
perdido na rua vazia,
vai meio despido ou talvez meio vestido,
está descalço, isso é certo.
Anda confuso, ziguezagueando entre a gente,
diria que ninguém o vê, ou talvez finja não ver.
pensam poder ignorá-lo.. faz-me rir às gargalhadas...

Vejo só amor à minha frente,
parece não ter rumo, é de quem o pegar,
pegas tu? despacha-te.
vais dizer-me que não o queres?
Tens algum receio?
Dizem que não é para todos,
deixo-o para ti.
Agarra-o. Não te acanhes...
Ninguém está a ver...
Solta-te em vida, não direi a ninguém.
Fica segredo nosso.

domingo, fevereiro 22

SERÁ?



"Só um amor incompleto permanece verdadeiramente romântico..."


Foi só um momento...

sexta-feira, fevereiro 20

SEM TÍTULO

Hoje morro aos pedaços...
Estou triste.
Hoje não há eufemismos para o sofrimento,
não há ilusões, nem magia com as palavras,
hoje as palavras são cruas, vestem vermelho de sangue.
Hoje não me disfarço de poeta que finge a dor de Pessoa,
hoje sou mesmo ninguém e choro.
Choro de impotência.
Choro de fraqueza,
de sensibilidade, porque queria poder ser frio.
Hoje despi o optimismo e fiz-me humano.
Hoje feriram-me a vida,
arrancaram-me um pedaço do peito e ofereci a alma inteira.
Hoje grito luto em processo,
parece que não termina, ecoa no meu respirar.
Sou EU, falo de mim, DÓI-ME....
Não finjo, não escrevo por escrever,
dor rima com sofrimento tal como descrito,
não sou ficção, sou realidade a desvanecer...
Não quero dizer mais...

quinta-feira, fevereiro 19

RASCUNHO

Sei onde encontrar-te.
Ficaste na regularidade do tempo,
vi-te ontem na elasticidade da mente,
tinhas o passado em frente dos passos.
Sei como ter-te,
transformo-te em presente.
Tenho o dom da manipulação,
não resistas.
Ignora o mundo inteiro e a dor nos olhos,
faz-te existência no meu corpo,
abraça-me em inconsciência.
Desfaz-te dessas defesas inúteis,
oferece à ânsia toda a tua vontade.
Faz-me tremer no peito o rascunho de um poema,
o teu toque.
Não me importo que termines os versos mais tarde.
Apenas avisa-me com antecedência...
INCOERÊNCIA COM SENTIDO

Estas palavras que digo, que escrevo,
palavras que solto, que desprendo, que condeno,
palavras que sonho, que vivo, que ignoro,
estas palavras, só palavras sem característica, que vivem e são independentes,
estas palavras que são pedaços,
pedaços de tudo e ás vezes também de nada,
palavras que me preenchem ou são só metade de mim,
quando não quero que sejam eu inteiro e as castigo,
EU sou elas despido, e elas eu ao mesmo tempo,
juntos somos nus de alma, nus de forma, aldrabados de conteúdo.

Por vezes sou sem nexo se não sou sempre,
mas quando sou sempre foi porque o nexo ganhou vida e fugiu,
eu não vou atrás, quero lá saber dele que se foi porque quis.
Quando tenho que procurar sei que está escondido em mim,
se quiser vir palavras que se transforme e eu não terei acção.
Ficarei anónimo que também é bom,
desconhecido, poderia ser sinónimo de livre se bem entendo
ou então de confuso que diz que é interessante do mesmo modo.

Até gosto quando me visto assim de palavras,
importante claro é despir-me de sentido, ou então dos sentidos todos.
Palavras de ilusão, inverdade em forma de palavras,
seria mais fácil dizer mentira mas não apeteceu,
agora não apetece simplicidade porque traz tédio, talvez mais logo,
no segundo antes do sol se ir (seria correcto dizer se por?)
ou então a lua se vir, que parece mal, não?
palavras dependem da mente.. que decidiste?
Se me adulteras palavras deixo de ser, achas que passo a ser tu?
ou passo a inexistir e a ser ninguém?

Palavras avariadas estas, tenho esperança que sim,
caso contrário irei denominá-las palavras desperdiçadas,
ou maltratadas, unidas pelo acaso rumo a devaneio qualquer, anunciado...
Deviam prender-me sem palavras, sou culpado, não tenho dúvidas…

quarta-feira, fevereiro 4

APROVEITA O DIA (Walt Whitman)

Aproveita o dia,
Não deixes que termine sem teres crescido um pouco.
Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te, que é quase um dever.
Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário.
Não deixes de crer que as palavras e as poesias sim podem mudar o mundo.
Porque passe o que passar, nossa essência continuará intacta.
Somos seres humanos cheios de paixão.
A vida é deserto e oásis.
Nos derruba, nos lastima, nos ensina, nos converte em protagonistas de nossa própria história.
Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu podes trocar uma estrofe.
Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem.
Não caias no pior dos erros: o silêncio.
A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, e nem fujas.
Valorize a beleza das coisas simples, se pode fazer poesia bela, sobre as pequenas coisas.
Não atraiçoes tuas crenças.
Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos.
Isso transforma a vida em um inferno.
Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda a diante.
Procures vivê-la intensamente sem mediocridades.
Pensa que em ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo.
Aprendes com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam.
Não permitas que a vida se passe sem teres vivido...

sexta-feira, janeiro 23

PALAVRAS SIMPLES

Acredito que a vida tem os seus momentos únicos, inigualáveis.
Penso, contudo, que todos os momentos são importantes.
Acredito que os sentimentos nos chegam como as estações do ano, todos tem o seu tempo e diferentes intensidades.
Acredito que todos temos os nossos negros e os nossos frios e que nos são tão indispensáveis como o quente e o vermelho.
Acredito em pedaços de felicidade suspensos, pendentes de nós.
Acredito que viver é uma questão de atitude.
Acredito que o positivismo e o optimismo poderiam ser a principal oração de todas as religiões. O pessimismo e o negativismo não trazem vantagens nenhumas, dou primazia ao pragmatismo.
Acredito que perseverar na procura é já encontrar, entendo que o benefício está no processo, encontrar é a cereja no topo do bolo.
Acredito no uso do livre-arbítrio, no uso da liberdade e na sinceridade como exigência.
Acredito que errar é crescer forçadamente, isso já acontece com o corpo, é a forma da mente o acompanhar.
Venero quem se acompanha da sensibilidade quando vai para o meio do mundo, ir sozinho é um risco desnecessário.
Sou a favor da realidade mas não me inibo de sonhar, acordado, e gerir assim a caixa de velocidades que lhe confere dinamismo.
Gosto de ter sensações… Gosto de saber que existe vento porque o sinto, de dançar no meio da rua porque o meu corpo tem ritmo, de respirar o mar pelo nariz e inalar a sua imensidão porque sim…
Acredito que ser parvo é uma característica interessante, evita o afogamento no que a vida tem de sério.
Gosto de beijar para saborear o doce.
Gosto de abraçar porque o meu corpo tem necessidade do toque e porque tremer de intensidade não tem preço.
Tenho a cor do sol no peito e a lua presa nos olhos por isso não existem cantos escuros onde não me apeteça.
Sou grande e forte nas paredes da alma porque me alimento de tranquilidade.

Não posso ser definido.

terça-feira, janeiro 20


strong>VOU APAGAR A LUZ E FECHAR O MUNDO

Chega mais perto, aconchega-te no meu abraço.
Encaixa-te nos meus sentires, tu conheces o caminho.
Segue na extensão do teu corpo, estou à porta do desejo,
a olhar para ti...
Linda e resplandescente.
Fica perto, faz frio lá fora,
não me interessa o mundo inteiro, o calor da tua pele chega-me.

Olha-me nos olhos. Sentes?
É o efeito que produzes em mim.
Aqui é sempre quente, aqui tudo é claro.
Tás acesa em mim, escureces o resto.
Fora de ti só há mesmo o resto, e é escuro, e tem sombras.

Eu quero-te.

Sorri para mim, despe-me.
Não tenho inquietações, já derretemos todo o gelo.
Anseio pelo teu beijo. Como caracterizá-lo?
É doce. É suave. É tranquilo e inspira-me.
É o silêncio assumindo o êxtase da sua metamorfose.
Cala-me nos teus lábios, as palavras estão em excesso.
Vou apagar a luz e fechar o mundo.
AMOR

Onde te escondes em mim?
Em que centímetro de pele?
Em que pedaço de sonho?
Em que rasgo de tempo?

Sinto-te agora, presente nos traços que me desenham o corpo.
Tenho a alma resignada à condição de tela,
escrava do teu interesse...
Sou dependência em forma de arte nas tuas mãos....

Amor,
faz-te carne e alimenta-me.
Torna-te líquida nas minhas veias,
realiza-te rimo no meu respirar,
existe na intensidade do meu olhar,
substitui o desejo na minha voz...

Toca-me...

segunda-feira, janeiro 19


TEMPO LÍQUIDO


A espera continua enquanto o tempo desliza pela realidade abaixo, líquido como sempre, difícil de petrificar, revestido de frieza insustentável...

O CANSAÇO DE TODAS AS HIPÓTESES

Gostaria de poder escrever mais frequentemente, expelir palavras pelos poros sem cessar, não por ser uma questão de necessidade, suporto tranquilamente a ausência de sol porque a noite não me inquieta, acontece que me bate no peito o "cansaço de todas as hipóteses" e por isso amordaço as opções para não ter de agir. Sim porque há um segundo em que a vida me cansa de a ter agredido. Então paro...

sábado, janeiro 17

CONFISSÃO

Quero que fiques.Melhor, não queria que fosses.
Será correcto dizer,não queria que tivesses ido?
Essa não é a questão essencial,
aliás, se "o essencial é invisível aos olhos", o essencial és tu.
Fazes parte do ter ido dos olhos e ter ficado no pensamento ,
por isso doem-me os olhos,
dessa cegueira da tua ausência.

Chegas-me incontornavelmente, diariamente,
vestida de noite,de escuro, de breu,
acendes-me na memória como estrela brilhante, a polar,
no alto desse abismo que sou por não estar em ti.
Na realidade se pensas estar longe enganas-te.
Tenho-te presa numa tatuagem debaixo da pele,
aqui ninguém te vê mas dóis-me e sangras-me na consciência
com uma lucidez feroz que me contorna a alma inteira.

Apetece-me sempre violar a tua existência,
contudo tenho tendência a relativizá-la,
é o melhor para ti,
coloco-a por detrás das costas e torno-a enigma
protegida pelos ombros largos.
Deixaste rasto nos beijos suspensos,
nos puzzles que toques faltam para completar.
No fazer amor que ficou incompleto porque teu corpo falta-me,
parece que me vesti de inverno mas tu é que és o frio.

Sei onde estás mas é injusto já pensar-te,
seria monstruoso alcançar-te...subir aí em cima,
no cume da loucura, seria excesso de egoísmo
por dar corpo a uma queda já iminente.
Estou a despir-me à tua frente
para me baptizar de crença,de joelhos no chão,
fere-me a sinceridade, a confissão é acto imperativo.. eu confesso...
Se estas palavras tivessem rumo,
se pudessem perder-se no norte da saudade,
onde a ilha se esconde, iluminada pelo farol, que sei ser sempre constante,
esse optimismo
que não se apaga,eu não ambicionaria mais nada,
apenas a realidade, tranquilidade apenas...

Nada de sonhos em noites de lua cheia,
nada de ilusões líquidas em veias danificadas de vício...
Nada de loucura a afogar-se em intensidade,

A falta congela-se...É triste...
Estas palavras não são minhas,
eu é que as pertenço,
eu sou as palavras e
quando te ausentas s
ou ainda menos que isso..
mas quando vens deixo de ser...
és tu por mim.

Queria que fosse fácil,
aliás tudo é fácil,
eu é que sou díficil...
RASGOS DE ESPONTANEIDADE

Adapto-me bem às palavras,
é um mundo que me tem à parte,
onde as perspectivas dependem do ângulo da imaginação.
Num rasgo de espontaneidade,
abraço o sol inteiro sem ter de dividir-lhe os raios,
caminho sobre os 7 mares sem ter de anestesiar
ondas revoltadas.
Observo o outro lado do kilimanjaro
sem abrir túneis pra escurecer a cegueira.
Agarro nas mãos o tempo,
configuro-lhe da infinitude que achar conveniente.
Faço-me kilómetro que veste o vento,
absorvo o espaço na minha pele.
Espontaneidade,
vontade imediata de dar ritmo ao inexistente...
Eu, quase frustrado,
numa tentativa desesperada de acorrentar em mim inspiração.
Eu, disfarçado de Carnaval,
mascarado de revolta espontânea,
de impotência insana,
de incoerência escrita...
ARREPIOS DE SENSIBILIDADE


Hoje é dia interior de sentir,é dia de beber de penalty emoções recalcadas,é dia de embriagar o coração com sentimentos líquidos. É tempo de soltar lágrimas pelos olhos da alma, de ter segundos para lamentar o passado ausente. Hoje a liberdade é respirar lembranças compulsivamente, é derreter a frieza no olhar quente do revivalismo. Abraçar o momento em que tudo parecia ser possível e desprender nele o presente activo. Hoje a voz grita sonhos adormecidos e a pele despe as feridas semi-abertas, meio cicatrizadas. Hoje sou todo arrepios de sensibilidade..
Porque me apetece...
COM O ESCURO PRESO NA VOZ

Estendo a minha alma pelo chão,
faço do corpo inteiro pensamento.
Visto frio e disfarço-me de inverno
num carnaval fora de época.
Petrifico o movimento,
faço da inércia liquidez a enfervescer e, do tempo,
roubo a infinitude.
Escrevo palavras claramente estúpidas,
estupidamente armadas de incoerencia.
Garanto que não as percebam.
Faço a noite circular-me no sangue,
o escuro a sair-me pela voz,
grito intensidade pelos poros,
depois... espero...

O TEU CORPO NUM SONHO


É agora, neste segundo a passar...
Violo de luz o negro a que chamas adormecer.
Sou o sonho que a tua ilusão inconsciente quis acender.
Abraço o nú do teu corpo desprotegido,
desenho nele pedaços de perfeição,
concretizo a irrealidade dela existir.
Desfaço o desejo em beijos na curva dos teus seios,
lábios a deslizar em modo automático a ignorar
as regras do pudor.



É agora, segundo efémero que perdura,
o tempo tem a velocidade que lhe atribuir.
Tenho a ponta dos dedos a ordenar um tremor de prazer
na tua pele,
podia também ser explosão
se fizesse da palma da mão rastilho e do meu olhar,
fósforo de intensidade.


É agora, um segundo paralisado na minha vontade,
é transparente a cor da ânsia.
Emana da tua pele magnetismo húmido e pinga em mim
em forma de transpiração...
Teu sexo é oceano de loucura, e eu,sou louco,
a querer suicidar-me por afogamento...
Estou adormecido no tempo que se apagou,
o sonho és tu.


Quero-te realidade...