quarta-feira, setembro 14

ARCO IRIS

Quando eu era uma criança tinha um sonho muito maior que o meu tamanho.
Queria ter um arco iris.
Um dia cresci e deixei de sonhar.
Deixei o sonho e o sonho aceitou ficar no passado que era meu.
Quando eu era criança tinha as costas muito largas e, embora eu tenha crescido, e por isso tenha deixado de sonhar, não deixei de ter as costas largas.
Desde sempre me lembro de gostar de um arco iris simples. O arco iris tem muitas cores e em criança isso sempre me pareceu uma coisa boa e isso não mudou em mim por eu ter crescido. Por outro lado, o arco iris parece abraçar o mundo inteiro, é engraçado porque envolve quase todo o céu mas parece que não tem inicio nem fim.
Da mesma forma tambem quis em tempos abraçar o mundo inteiro, hoje ainda quero, tenho em mim inclusive uma certa prepotência que me faz crer que posso não ser nem inicio nem fim de qualquer coisa, é pena que pensar nisso me faz doer os olhos...
Gosto, no arco iris, dessa imensidão que transporta como se nunca se fosse acabar, dessa imponência que é como um sorriso que ilumina uma sala cheia de rostos cansados. Esse sorriso é contudo leve, de uma tranquilidade inebriante, dura uma hora, esse instante perdura no entanto até o seu regresso, tenho-o agora comigo, tenho a sorte de ir coleccionando na pele todas essas efemeridades.
Não sou inocente totalmente, só pode existir arco-íris se chover e tempos de chuva não são sempre fáceis.
Durante essa hora em que visto esse sorriso etéreo sou um aventureiro que se desafia arriscadamente, sem temer a vida e que vive numa dimensão diferente. Sinto-me intocável, quase que renasço criança, pleno do
desconhecimento geral do peso que o mundo tem.
Nessa hora em que tenho o arco iris à minha frente, à distancia de um abraço, imagino-me perdido a sentir na pele o arrepio de cada toque de calor, o sabor de cada cor, a intensidade de cada centimetro.
É pena ser criança nessa altura.
Se eu pudesse ser adulto ao mesmo tempo e não me tremesse o corpo todo de estar vivo, talvez pudesse ter a esperança de não ter deixado de sonhar..
Se o arco iris fosse pessoa...

terça-feira, setembro 13


EU PODERIA SER AS PALAVRAS QUE ESCREVO,

poderia ser estas palavras,

eu poderia ser estas palavras que escorrem de forma líquida neste espaço em branco.

Provavelmente sou todas estas palavras,

Provavelmente sou até um pouco mais,


o espaço que as separa,

tudo o que está escrito entrelinhas,

tudo aquilo que interpretas..

Sou muito mais que tudo isso.

Sou aquilo que sabes que fica por dizer...


segunda-feira, setembro 12

Queria escrever com a pele tudo o que sinto,



existiria forma mais fiel de traduzir-me?

sexta-feira, setembro 9


COMO SE FAZ O RASCUNHO DE UMA PESSOA?

Como se faz um rascunho de uma pessoa que se quer desenhar perfeita?
Como se desenha uma pessoa perfeita que se quer fazer permanecer para sempre?

É importante não se enganar porque só existe uma hipótese de desenhar a pessoa perfeita.

Só existe uma página em branco, só existe uma oportunidade,



não existirá uma segunda pessoa perfeita.

Não se pode perder uma pessoa perfeita para sempre.

Não quero perder a pessoa perfeita.

Quero fazer um rascunho. Não me quero enganar.

Quero fazer permanecer.

terça-feira, março 22

COMUM ESTRANHO

Digo sempre que sou estranho mas nunca me levam a sério, pensam que sou eu a ter devaneios.


Eu não nego os devaneios, e também não quero que me levem a sério realmente, mas essa estranheza que carrego não é o sublinhar de uma diferença, é assumir que sou comum entre os diferentes, o que quer que seja que isso quer dizer.


Não pretendo ser diferente nem igual aos outros, nem diferente ou igual ao que penso ser, quero apenas ser... sem ter de pensar nisso.

quarta-feira, fevereiro 9

CEPTICISMO

Sou insuficiente uma vez mais. Acordo, esforçado, abraçado à dor nos olhos que de tempos a tempos me assola fatalmente. Sempre o amor como catalisador e o resto do mundo como vítima. Compreendo o amor mais do que queria, vivo-o mais do que o compreendo, e assim é que está bem, mas esse viver nunca é pacífico, também não é suposto que o seja. Nunca percebi muito bem para onde o amor me tem tentado levar mas facilmente percebo quando os caminhos são errados. Nesta realidade em que vivo e que presunçosamente sempre me pareceu minha, o amor chega como condição necessária à minha existência e eu aceito esse facto como se fosse hora do jantar, só não sei se hoje quero beber água, talvez não seja preciso para que me sacie inteiramente.

À parte de todas as certezas que tenho, as tais… de que o amor não pode ser definido (eu poderia chamar-me amor), de que controlá-lo não é uma utopia, é uma irrealidade consumada, e aspirar a algo que se possa parecer com uma tentativa de o fazer é não menos do que um devaneio próprio dos loucos em virtude de terem tempo de sombra no tempo que lhes está destinado, se eu quiser colocar um parêntesis sobre este assunto que meus dedos forçosamente querem gritar, como se fosse possível colocar o amor fechado entre dois mundos ou deixá-lo de molho, reservar, para usar mais tarde apercebo-me que a clarividência chega do escuro (e acendo a luz), que o melhor momento para ver o amor é no instante em que a noite cai e incontornavelmente se passa a fazer parte dela.

Claro que essa noite que chega, ciclicamente, como que vestida por fases não passa disso mesmo, o que ela é é apenas isso, escuridão total por ausência de luz, preto por ausência de cores ou por conter todas nela, não tenho bem essa certeza, sou céptico.

sábado, janeiro 8


GRITO


O grito vive numa sala fechada,

tem existência sólida, tem pele,

a pele veste eco, o eco é consistente,

a sala é fechada é o mundo inteiro.