quarta-feira, fevereiro 9

CEPTICISMO

Sou insuficiente uma vez mais. Acordo, esforçado, abraçado à dor nos olhos que de tempos a tempos me assola fatalmente. Sempre o amor como catalisador e o resto do mundo como vítima. Compreendo o amor mais do que queria, vivo-o mais do que o compreendo, e assim é que está bem, mas esse viver nunca é pacífico, também não é suposto que o seja. Nunca percebi muito bem para onde o amor me tem tentado levar mas facilmente percebo quando os caminhos são errados. Nesta realidade em que vivo e que presunçosamente sempre me pareceu minha, o amor chega como condição necessária à minha existência e eu aceito esse facto como se fosse hora do jantar, só não sei se hoje quero beber água, talvez não seja preciso para que me sacie inteiramente.

À parte de todas as certezas que tenho, as tais… de que o amor não pode ser definido (eu poderia chamar-me amor), de que controlá-lo não é uma utopia, é uma irrealidade consumada, e aspirar a algo que se possa parecer com uma tentativa de o fazer é não menos do que um devaneio próprio dos loucos em virtude de terem tempo de sombra no tempo que lhes está destinado, se eu quiser colocar um parêntesis sobre este assunto que meus dedos forçosamente querem gritar, como se fosse possível colocar o amor fechado entre dois mundos ou deixá-lo de molho, reservar, para usar mais tarde apercebo-me que a clarividência chega do escuro (e acendo a luz), que o melhor momento para ver o amor é no instante em que a noite cai e incontornavelmente se passa a fazer parte dela.

Claro que essa noite que chega, ciclicamente, como que vestida por fases não passa disso mesmo, o que ela é é apenas isso, escuridão total por ausência de luz, preto por ausência de cores ou por conter todas nela, não tenho bem essa certeza, sou céptico.