terça-feira, abril 27

CALA-TE NA MINHA PELE

Cala-te na minha pele.
Faz uso dessa liberdade que ostentas orgulhosamente,
do silêncio desenhado na textura dos teus lábios
a fingir ser abstracto.
Hoje, as palavra são excesso,
quero que sejas páginas em branco,
está tudo escrito no meu corpo.

Sentes-me tremer em intensidade?
É um segredo líquido que trago a escorrer-me pelo peito,
e que se evapora enquanto desce.
Quero contar-te tudo,
guardá-lo bem dentro de ti.
Abre-me o teu abraço e prende-me.
Levarei tudo o que me pertence,
deixarei para trás o inverno para me aventurar
nesse sonho quente.
Já despi a noite para o viver.
Acolhe-me.
Cala-me na tua pele.

domingo, abril 18

SAUDADES

Há quase um ano não´screvo.
Pesada a meditação
torna-me alguém que não devo
interromper na atenção.

Tenho saudades de mim,
de quando, de alma alheada,
eu era não ser assim,
e os versos vinham de nada.

Hoje quanto faço,
´screvo sabendo o que digo...
para quem desce do espaço
este crepúsculo antigo?


Fernando Pessoa