domingo, julho 23

TRANSPARENTE

Grito calado no silêncio,
entre o ruído ausente e a esperança da sua presença.

Abafar absurdo de uma vontade
presa na sombra de um pedido latente...

Palavras aniquiladas, sufocadas por cobardia,
escritas em olhares perdidos, cegos sem se importar...

Ensaio de loucura suspensa na mente, congelada,
espelha a anormalidade que, na realidade, tende para o banal.
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Falo da vida como se não a entendesse,
complexificando o evidentemente simples para dar corpo à dúvida.

Rejeito a transparência
YAWP

Ainda a madrugada espera o cântico sublime que acompanha o nascer do sol para ser embalado para o adormecer, já os meus pensamentos rotineiros sobre nada são invadidos por divagações mentais que me atrevo a obrigar permanecer.

Lembro-me de frases que tentam definir vida... A vida é um carrocel, só tens de te sentar e aproveitar a viagem, consciencializo as ascensões que nos colocam o céu nas mãos mas também as descidas vertiginosas que nos apresenatam o abismo, que não temos prazer nenhum em conhecer.

Lembro-me da frase de um amigo que afirma sempre, no meio de gargalhadas, que a vida são férias que a morte nos dá e então penso: porque razão as pessoas só têm férias durante um mês (o meu lado optimista) nos doze meses que constituem o ano sendo que tudo o resto é morte.. Se a nossa maior ambição é a vida, porque não temos férias onze meses por ano e então quando tivéssesmos cansados de tanta vida ficaríamos um mês a morrer na depressão abismal de cair nas rotinas que nos acorrentam a liberdade no "têm que ser é a vida"...

Contudo, e apesar disto, o que hoje mais me preenche os espaços no lugar onde surge o pensar é o debate sobre a nossa auto-suficiência para dominar/controlar a vida.
A vida é uma página em branco que só tu podes preencher, é um poema com forma mas sem conteúdo e tu és o responsável por escrever os versos pois é certo que ninguém o fará por ti. Esta ideia não é única, existem outras contrárias. Garcia Marquez começa um dos seus mais conhecidos poemas da seguinte forma; "se eu não fosse uma marionete de trapos...", em que o fatalismo do destino é um determinismo inultrapassável, o que nos iliba da responsabilidade de nos responsabilizarmo-nos e é um pouco diferente de decidir sobre a influência de determinismos light, quer sejam sociais, económicos, culturais, etc.

Recuso a ideia de ser um boneco manejado pelo inevitável. Aspiro ser comandante da vida, não um escravo, não pretendo ser tela onde se esboçam pedaços de vida, quero pintar o quadro completo de mim sobre o fundo que a minha imaginação me permitir desenhar.

Não é minha intenção responder aos desafios, a minha realização é criá-los, é jogar na antecipação, não me assenta bem o smoking da passividade. A minha esperança é despir-me desse contrangimento.

Vou gritar o meu bárbaro yawp nos ouvidos do mundo.

quarta-feira, julho 5

DENTRO DE UM CUBO DE GELO

Quando nasce numa mente um intenso desejo de mudança, a única solução é mesmo mudar, depois desse desejo passar por todas as fases que uma criança passa, depois do seu nascimento até se tornar adulta, o ser que o fez nascer não pode deixá-lo morrer como tudo o resto. A única solução é fazê-lo perpetuar-se dentro de um cubo de gelo, aí tudo será diferente, não existirá dor nem alegria, tristeza ou felicidade, será tudo tão normal como o cubo de gelo, não haverá intensidade porque nada será nem mais nem menos, simplesmente será. Um cubo de gelo evita a banalidade do dia a dia, evita os desgostos de amor, as ilusões dos sorrisos, afasta-nos de todas as mentiras que a verdade nos faz acreditar.
Olhamos sempre para a realidade com olhos de espanto como se nunca a tivéssemos vivido, mas dentro de um cubo de gelo a realidade não nos espanta, não nos altera, não porque estejamos indiferentes a ela, não porque sejamos insensíveis e frios mas só e apenas porque é real e não tem definição nem adjectivos que a qualifiquem.
Dentro de um cubo de gelo, a realidade é real, o sonho é o sonho, a felicidade é... Assim como a tristeza e a sua naturalidade, reina e sopra, flutua com o vento...

INSUFICIÊNCIAS...

Numa praia deserta,
numa casa abandonada,
num navio naufragado,
numa vela apagada,
jazem memórias de um sonho inacabado,
de uma metade vida por completar,
uma realidade por viver,
uma verdade por confirmar...