sábado, janeiro 17

CONFISSÃO

Quero que fiques.Melhor, não queria que fosses.
Será correcto dizer,não queria que tivesses ido?
Essa não é a questão essencial,
aliás, se "o essencial é invisível aos olhos", o essencial és tu.
Fazes parte do ter ido dos olhos e ter ficado no pensamento ,
por isso doem-me os olhos,
dessa cegueira da tua ausência.

Chegas-me incontornavelmente, diariamente,
vestida de noite,de escuro, de breu,
acendes-me na memória como estrela brilhante, a polar,
no alto desse abismo que sou por não estar em ti.
Na realidade se pensas estar longe enganas-te.
Tenho-te presa numa tatuagem debaixo da pele,
aqui ninguém te vê mas dóis-me e sangras-me na consciência
com uma lucidez feroz que me contorna a alma inteira.

Apetece-me sempre violar a tua existência,
contudo tenho tendência a relativizá-la,
é o melhor para ti,
coloco-a por detrás das costas e torno-a enigma
protegida pelos ombros largos.
Deixaste rasto nos beijos suspensos,
nos puzzles que toques faltam para completar.
No fazer amor que ficou incompleto porque teu corpo falta-me,
parece que me vesti de inverno mas tu é que és o frio.

Sei onde estás mas é injusto já pensar-te,
seria monstruoso alcançar-te...subir aí em cima,
no cume da loucura, seria excesso de egoísmo
por dar corpo a uma queda já iminente.
Estou a despir-me à tua frente
para me baptizar de crença,de joelhos no chão,
fere-me a sinceridade, a confissão é acto imperativo.. eu confesso...
Se estas palavras tivessem rumo,
se pudessem perder-se no norte da saudade,
onde a ilha se esconde, iluminada pelo farol, que sei ser sempre constante,
esse optimismo
que não se apaga,eu não ambicionaria mais nada,
apenas a realidade, tranquilidade apenas...

Nada de sonhos em noites de lua cheia,
nada de ilusões líquidas em veias danificadas de vício...
Nada de loucura a afogar-se em intensidade,

A falta congela-se...É triste...
Estas palavras não são minhas,
eu é que as pertenço,
eu sou as palavras e
quando te ausentas s
ou ainda menos que isso..
mas quando vens deixo de ser...
és tu por mim.

Queria que fosse fácil,
aliás tudo é fácil,
eu é que sou díficil...

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