sexta-feira, abril 6

SAUDADES


Deixei de vestir poesia, deixei de sentir palavras, deixei de escrever,
as palavras ficaram-me no passado e eu parti.


Deixei de escrever, vivo o presente e aqui não se sente,
não há poesia, existo eu, aqui, 
despido de palavras..

quarta-feira, setembro 14

ARCO IRIS

Quando eu era uma criança tinha um sonho muito maior que o meu tamanho.
Queria ter um arco iris.
Um dia cresci e deixei de sonhar.
Deixei o sonho e o sonho aceitou ficar no passado que era meu.
Quando eu era criança tinha as costas muito largas e, embora eu tenha crescido, e por isso tenha deixado de sonhar, não deixei de ter as costas largas.
Desde sempre me lembro de gostar de um arco iris simples. O arco iris tem muitas cores e em criança isso sempre me pareceu uma coisa boa e isso não mudou em mim por eu ter crescido. Por outro lado, o arco iris parece abraçar o mundo inteiro, é engraçado porque envolve quase todo o céu mas parece que não tem inicio nem fim.
Da mesma forma tambem quis em tempos abraçar o mundo inteiro, hoje ainda quero, tenho em mim inclusive uma certa prepotência que me faz crer que posso não ser nem inicio nem fim de qualquer coisa, é pena que pensar nisso me faz doer os olhos...
Gosto, no arco iris, dessa imensidão que transporta como se nunca se fosse acabar, dessa imponência que é como um sorriso que ilumina uma sala cheia de rostos cansados. Esse sorriso é contudo leve, de uma tranquilidade inebriante, dura uma hora, esse instante perdura no entanto até o seu regresso, tenho-o agora comigo, tenho a sorte de ir coleccionando na pele todas essas efemeridades.
Não sou inocente totalmente, só pode existir arco-íris se chover e tempos de chuva não são sempre fáceis.
Durante essa hora em que visto esse sorriso etéreo sou um aventureiro que se desafia arriscadamente, sem temer a vida e que vive numa dimensão diferente. Sinto-me intocável, quase que renasço criança, pleno do
desconhecimento geral do peso que o mundo tem.
Nessa hora em que tenho o arco iris à minha frente, à distancia de um abraço, imagino-me perdido a sentir na pele o arrepio de cada toque de calor, o sabor de cada cor, a intensidade de cada centimetro.
É pena ser criança nessa altura.
Se eu pudesse ser adulto ao mesmo tempo e não me tremesse o corpo todo de estar vivo, talvez pudesse ter a esperança de não ter deixado de sonhar..
Se o arco iris fosse pessoa...

terça-feira, setembro 13


EU PODERIA SER AS PALAVRAS QUE ESCREVO,

poderia ser estas palavras,

eu poderia ser estas palavras que escorrem de forma líquida neste espaço em branco.

Provavelmente sou todas estas palavras,

Provavelmente sou até um pouco mais,


o espaço que as separa,

tudo o que está escrito entrelinhas,

tudo aquilo que interpretas..

Sou muito mais que tudo isso.

Sou aquilo que sabes que fica por dizer...


segunda-feira, setembro 12

Queria escrever com a pele tudo o que sinto,



existiria forma mais fiel de traduzir-me?

sexta-feira, setembro 9


COMO SE FAZ O RASCUNHO DE UMA PESSOA?

Como se faz um rascunho de uma pessoa que se quer desenhar perfeita?
Como se desenha uma pessoa perfeita que se quer fazer permanecer para sempre?

É importante não se enganar porque só existe uma hipótese de desenhar a pessoa perfeita.

Só existe uma página em branco, só existe uma oportunidade,



não existirá uma segunda pessoa perfeita.

Não se pode perder uma pessoa perfeita para sempre.

Não quero perder a pessoa perfeita.

Quero fazer um rascunho. Não me quero enganar.

Quero fazer permanecer.

terça-feira, março 22

COMUM ESTRANHO

Digo sempre que sou estranho mas nunca me levam a sério, pensam que sou eu a ter devaneios.


Eu não nego os devaneios, e também não quero que me levem a sério realmente, mas essa estranheza que carrego não é o sublinhar de uma diferença, é assumir que sou comum entre os diferentes, o que quer que seja que isso quer dizer.


Não pretendo ser diferente nem igual aos outros, nem diferente ou igual ao que penso ser, quero apenas ser... sem ter de pensar nisso.

quarta-feira, fevereiro 9

CEPTICISMO

Sou insuficiente uma vez mais. Acordo, esforçado, abraçado à dor nos olhos que de tempos a tempos me assola fatalmente. Sempre o amor como catalisador e o resto do mundo como vítima. Compreendo o amor mais do que queria, vivo-o mais do que o compreendo, e assim é que está bem, mas esse viver nunca é pacífico, também não é suposto que o seja. Nunca percebi muito bem para onde o amor me tem tentado levar mas facilmente percebo quando os caminhos são errados. Nesta realidade em que vivo e que presunçosamente sempre me pareceu minha, o amor chega como condição necessária à minha existência e eu aceito esse facto como se fosse hora do jantar, só não sei se hoje quero beber água, talvez não seja preciso para que me sacie inteiramente.

À parte de todas as certezas que tenho, as tais… de que o amor não pode ser definido (eu poderia chamar-me amor), de que controlá-lo não é uma utopia, é uma irrealidade consumada, e aspirar a algo que se possa parecer com uma tentativa de o fazer é não menos do que um devaneio próprio dos loucos em virtude de terem tempo de sombra no tempo que lhes está destinado, se eu quiser colocar um parêntesis sobre este assunto que meus dedos forçosamente querem gritar, como se fosse possível colocar o amor fechado entre dois mundos ou deixá-lo de molho, reservar, para usar mais tarde apercebo-me que a clarividência chega do escuro (e acendo a luz), que o melhor momento para ver o amor é no instante em que a noite cai e incontornavelmente se passa a fazer parte dela.

Claro que essa noite que chega, ciclicamente, como que vestida por fases não passa disso mesmo, o que ela é é apenas isso, escuridão total por ausência de luz, preto por ausência de cores ou por conter todas nela, não tenho bem essa certeza, sou céptico.

sábado, janeiro 8


GRITO


O grito vive numa sala fechada,

tem existência sólida, tem pele,

a pele veste eco, o eco é consistente,

a sala é fechada é o mundo inteiro.


quarta-feira, setembro 29

Há muitos dias que não escrevo um poema para ti

Há muitos dias que não escrevo um poema para ti..
Que falha a minha amor. Perdoa-me...

Tantos dias sem um amo-te público gritado ao mundo.
Tantos dias sem um sorriso silencioso configurado por letras a traduzir: sou feliz porque existes.
Tenho andado perdido nos cansaços,
ás vezes distraído pelos entusiasmos,
em inúmeras vezes embriagado no teu abraço e, por isso,
distraído...
a deixar passar as palavras...Mas hoje não.
Hoje levo palavras até à ilha para agradecer o privilégio.
És sempre presente, mesmo quando no horizonte o futuro entra no meu campo de visão. Compreendes o que digo?
A minha dificuldade é mesmo escrever-te.. Quero dizer descrever-te...
Melhor, descrever-te escrevendo ou, ao escrever, ir te descrevendo..
Percebeste a minha dificuldade?
São as palavras. Antes eram tudo, chegavam para tudo, mas, para ti ilha,
para ti são raramente suficientes, muitas vezes impotentes.. e o que eu sinto..
o que eu sinto tem tanta força que temo que a intensidade se perca nesses espaços que as palavras não podem preencher.
Mas hoje arrisco porque de repente pensei que pudesses ficar triste por não te veres nas minhas palavras ou mesmo por não as veres sequer.
Não quero isso. És muito mais do que elas.
Tudo o que possa tentar criar para ti não poderá ser mais do que um poema inacabado,
porque nos falta o tempo, e o resto do mundo inteiro.
Não poderei dar-te ainda mais do que uma canção com versos por terminar. Eu só me acabo no teu abraço e ainda tens tanto...
Temos tanto por começar e ir acabando...

Há muitos dias que não escrevo um poema para ti..
Que falha a minha amor. Perdoa-me...




sábado, julho 17

terça-feira, maio 11


VIVE
o
pensamento,
amordaçado...
CULPADO

Tenho sido acusado ao longo dos tempos de ser apenas palavras. Sempre me defendi dizendo que as palavras é que me têm e não o contrário. Hoje não, confesso-me culpado, hoje aceito a minha culpa, talvez elas sejam mesmo tudo o que tenho, talvez sejam tudo o que sou. Mas um dia vou ser mais que as palavras, talvez o consiga ser ainda hoje. Quero desvanecer-me num eco desse silêncio que as palavras me roubam. Hoje não quero errar. . .

quinta-feira, maio 6

Sou um FILHO DO ACASO. Vindo do vazio, paro no nada e estaciono em lado algum à espera de acontecer. É príncipio de tarde, a manhã foi empurrada para o passado e é quando surjo, vindo do vazio. Sou um filho do acaso e abraçado à indefinição que lhe está associada vou crescendo. Carrego no peito a cegueira disfarçada de quem tem dor nos olhos e isso faz pesar o pensamento. Pisco os olhos à memória num tempo que vivi e que ficou comigo preso. Sou filho do acaso e é ao acaso que sou fiel, a essa inexistência que não tem de ser explicada e de que nada se espera.
Acaso, meu pai, disfarçou-me de humano e eu religiosamente ajoelho-me perante essa realidade. Sou fruto dessa metamorfose inesperada e é mais ou menos isso que sei e me é suficiente.
Adoptei do acaso uma espécie de inconstância inesperada e uso-a como lanterna quando fica escuro... agora não, neste acontecer não tenho arma nenhuma, sou eu de pele à luz e sem consciência de precisar disso. Aliás, sou eu sem consciência. A consciência também não precisa de mim.
Sou filho do acaso. Estou a acontecer.

quarta-feira, maio 5

Diagonalmente falando: Gosto de ser nada e não ter responsabilidade nenhuma,
gosto de saltar entre pontes,
de viver entre o que sou e o que quero ser.
Gosto das cócegas que tenho ao pensar que sou livre,
essa percepção abstracta faz-me rir
desalmadamente.
Gosto do tempo ser rápido demais para as minhas mãos
mas também gosto de ter os meus pés a andarem à frente do tempo.
Ando pelos dias sem ter pressa mas a pressa também não me tem.
É neste estar tranquilo que se vai fazendo noite e vão vivendo lá as estrelas.
Aqui, deste local onde estou no mundo,
não há preocupação que inquiete a minha paciência, por isso,
vou me deixando estar.
Talvez um dia me mude e leve para lá o meu corpo também.
Vou esperar que chegue sábado.

terça-feira, maio 4

PARADOXO FINGIDO

Sonho ser menos que o pó da estrada
referido em tempos por alguém que admiro.
Não sou digno de passos de gente sobre mim,
nego-me a dar sentido ao caminho de quem desconheço,quero apenas o título de sem-nome.
Sonho ser menos que poça de água em dia de chuva forte a erguer-se do fundo de um chão.
Não quero o risco de ser parte de um arco-íris.
Recuso-me a ser cor ou a ser confundido com qualquer coisa.
Aspiro somente à irresponsabilidade,
sonho vestir tranquilamente a irrelevância, só não sei o que isso significa.


imagem google
SOL NA ILHA


Olhar-te é escrever versos do poema perfeito.
Quero construir contigo uma obra completa.

terça-feira, abril 27

CALA-TE NA MINHA PELE

Cala-te na minha pele.
Faz uso dessa liberdade que ostentas orgulhosamente,
do silêncio desenhado na textura dos teus lábios
a fingir ser abstracto.
Hoje, as palavra são excesso,
quero que sejas páginas em branco,
está tudo escrito no meu corpo.

Sentes-me tremer em intensidade?
É um segredo líquido que trago a escorrer-me pelo peito,
e que se evapora enquanto desce.
Quero contar-te tudo,
guardá-lo bem dentro de ti.
Abre-me o teu abraço e prende-me.
Levarei tudo o que me pertence,
deixarei para trás o inverno para me aventurar
nesse sonho quente.
Já despi a noite para o viver.
Acolhe-me.
Cala-me na tua pele.

domingo, abril 18

SAUDADES

Há quase um ano não´screvo.
Pesada a meditação
torna-me alguém que não devo
interromper na atenção.

Tenho saudades de mim,
de quando, de alma alheada,
eu era não ser assim,
e os versos vinham de nada.

Hoje quanto faço,
´screvo sabendo o que digo...
para quem desce do espaço
este crepúsculo antigo?


Fernando Pessoa

terça-feira, dezembro 1

DE MENTE NA MÃO (a pensar-te)

imagem retirada do google

Tenho a mente na mão a pensar as formas da tua alma...
Traço palavras em branco, não me atrevo a esforçar-me mais,
Seria infrutífero.
Pudesse eu traduzir teu sorriso indecifrável,
contornar o brilho que emanas de teu olhar sem qualquer sombra.
Pudesse eu ser espelho e arriscar reproduzir-te sem falhas,
aspirar ser lago limpo e transparente e fazer de ti lua, altiva, imponente, omnipresente...

Ao alcance dos meus olhos...

quarta-feira, novembro 11

Gosto de ti


porque consegues ver cores no vento


e eu consigo ver o vento


através dos teus olhos.