Sou um FILHO DO ACASO. Vindo do vazio, paro no nada e estaciono em lado algum à espera de acontecer. É príncipio de tarde, a manhã foi empurrada para o passado e é quando surjo, vindo do vazio. Sou um filho do acaso e abraçado à indefinição que lhe está associada vou crescendo. Carrego no peito a cegueira disfarçada de quem tem dor nos olhos e isso faz pesar o pensamento. Pisco os olhos à memória num tempo que vivi e que ficou comigo preso. Sou filho do acaso e é ao acaso que sou fiel, a essa inexistência que não tem de ser explicada e de que nada se espera.
Acaso, meu pai, disfarçou-me de humano e eu religiosamente ajoelho-me perante essa realidade. Sou fruto dessa metamorfose inesperada e é mais ou menos isso que sei e me é suficiente.
Adoptei do acaso uma espécie de inconstância inesperada e uso-a como lanterna quando fica escuro... agora não, neste acontecer não tenho arma nenhuma, sou eu de pele à luz e sem consciência de precisar disso. Aliás, sou eu sem consciência. A consciência também não precisa de mim.
Sou filho do acaso. Estou a acontecer.
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