terça-feira, maio 11


VIVE
o
pensamento,
amordaçado...
CULPADO

Tenho sido acusado ao longo dos tempos de ser apenas palavras. Sempre me defendi dizendo que as palavras é que me têm e não o contrário. Hoje não, confesso-me culpado, hoje aceito a minha culpa, talvez elas sejam mesmo tudo o que tenho, talvez sejam tudo o que sou. Mas um dia vou ser mais que as palavras, talvez o consiga ser ainda hoje. Quero desvanecer-me num eco desse silêncio que as palavras me roubam. Hoje não quero errar. . .

quinta-feira, maio 6

Sou um FILHO DO ACASO. Vindo do vazio, paro no nada e estaciono em lado algum à espera de acontecer. É príncipio de tarde, a manhã foi empurrada para o passado e é quando surjo, vindo do vazio. Sou um filho do acaso e abraçado à indefinição que lhe está associada vou crescendo. Carrego no peito a cegueira disfarçada de quem tem dor nos olhos e isso faz pesar o pensamento. Pisco os olhos à memória num tempo que vivi e que ficou comigo preso. Sou filho do acaso e é ao acaso que sou fiel, a essa inexistência que não tem de ser explicada e de que nada se espera.
Acaso, meu pai, disfarçou-me de humano e eu religiosamente ajoelho-me perante essa realidade. Sou fruto dessa metamorfose inesperada e é mais ou menos isso que sei e me é suficiente.
Adoptei do acaso uma espécie de inconstância inesperada e uso-a como lanterna quando fica escuro... agora não, neste acontecer não tenho arma nenhuma, sou eu de pele à luz e sem consciência de precisar disso. Aliás, sou eu sem consciência. A consciência também não precisa de mim.
Sou filho do acaso. Estou a acontecer.

quarta-feira, maio 5

Diagonalmente falando: Gosto de ser nada e não ter responsabilidade nenhuma,
gosto de saltar entre pontes,
de viver entre o que sou e o que quero ser.
Gosto das cócegas que tenho ao pensar que sou livre,
essa percepção abstracta faz-me rir
desalmadamente.
Gosto do tempo ser rápido demais para as minhas mãos
mas também gosto de ter os meus pés a andarem à frente do tempo.
Ando pelos dias sem ter pressa mas a pressa também não me tem.
É neste estar tranquilo que se vai fazendo noite e vão vivendo lá as estrelas.
Aqui, deste local onde estou no mundo,
não há preocupação que inquiete a minha paciência, por isso,
vou me deixando estar.
Talvez um dia me mude e leve para lá o meu corpo também.
Vou esperar que chegue sábado.

terça-feira, maio 4

PARADOXO FINGIDO

Sonho ser menos que o pó da estrada
referido em tempos por alguém que admiro.
Não sou digno de passos de gente sobre mim,
nego-me a dar sentido ao caminho de quem desconheço,quero apenas o título de sem-nome.
Sonho ser menos que poça de água em dia de chuva forte a erguer-se do fundo de um chão.
Não quero o risco de ser parte de um arco-íris.
Recuso-me a ser cor ou a ser confundido com qualquer coisa.
Aspiro somente à irresponsabilidade,
sonho vestir tranquilamente a irrelevância, só não sei o que isso significa.


imagem google
SOL NA ILHA


Olhar-te é escrever versos do poema perfeito.
Quero construir contigo uma obra completa.