quarta-feira, setembro 29

Há muitos dias que não escrevo um poema para ti

Há muitos dias que não escrevo um poema para ti..
Que falha a minha amor. Perdoa-me...

Tantos dias sem um amo-te público gritado ao mundo.
Tantos dias sem um sorriso silencioso configurado por letras a traduzir: sou feliz porque existes.
Tenho andado perdido nos cansaços,
ás vezes distraído pelos entusiasmos,
em inúmeras vezes embriagado no teu abraço e, por isso,
distraído...
a deixar passar as palavras...Mas hoje não.
Hoje levo palavras até à ilha para agradecer o privilégio.
És sempre presente, mesmo quando no horizonte o futuro entra no meu campo de visão. Compreendes o que digo?
A minha dificuldade é mesmo escrever-te.. Quero dizer descrever-te...
Melhor, descrever-te escrevendo ou, ao escrever, ir te descrevendo..
Percebeste a minha dificuldade?
São as palavras. Antes eram tudo, chegavam para tudo, mas, para ti ilha,
para ti são raramente suficientes, muitas vezes impotentes.. e o que eu sinto..
o que eu sinto tem tanta força que temo que a intensidade se perca nesses espaços que as palavras não podem preencher.
Mas hoje arrisco porque de repente pensei que pudesses ficar triste por não te veres nas minhas palavras ou mesmo por não as veres sequer.
Não quero isso. És muito mais do que elas.
Tudo o que possa tentar criar para ti não poderá ser mais do que um poema inacabado,
porque nos falta o tempo, e o resto do mundo inteiro.
Não poderei dar-te ainda mais do que uma canção com versos por terminar. Eu só me acabo no teu abraço e ainda tens tanto...
Temos tanto por começar e ir acabando...

Há muitos dias que não escrevo um poema para ti..
Que falha a minha amor. Perdoa-me...




sábado, julho 17

terça-feira, maio 11


VIVE
o
pensamento,
amordaçado...
CULPADO

Tenho sido acusado ao longo dos tempos de ser apenas palavras. Sempre me defendi dizendo que as palavras é que me têm e não o contrário. Hoje não, confesso-me culpado, hoje aceito a minha culpa, talvez elas sejam mesmo tudo o que tenho, talvez sejam tudo o que sou. Mas um dia vou ser mais que as palavras, talvez o consiga ser ainda hoje. Quero desvanecer-me num eco desse silêncio que as palavras me roubam. Hoje não quero errar. . .

quinta-feira, maio 6

Sou um FILHO DO ACASO. Vindo do vazio, paro no nada e estaciono em lado algum à espera de acontecer. É príncipio de tarde, a manhã foi empurrada para o passado e é quando surjo, vindo do vazio. Sou um filho do acaso e abraçado à indefinição que lhe está associada vou crescendo. Carrego no peito a cegueira disfarçada de quem tem dor nos olhos e isso faz pesar o pensamento. Pisco os olhos à memória num tempo que vivi e que ficou comigo preso. Sou filho do acaso e é ao acaso que sou fiel, a essa inexistência que não tem de ser explicada e de que nada se espera.
Acaso, meu pai, disfarçou-me de humano e eu religiosamente ajoelho-me perante essa realidade. Sou fruto dessa metamorfose inesperada e é mais ou menos isso que sei e me é suficiente.
Adoptei do acaso uma espécie de inconstância inesperada e uso-a como lanterna quando fica escuro... agora não, neste acontecer não tenho arma nenhuma, sou eu de pele à luz e sem consciência de precisar disso. Aliás, sou eu sem consciência. A consciência também não precisa de mim.
Sou filho do acaso. Estou a acontecer.

quarta-feira, maio 5

Diagonalmente falando: Gosto de ser nada e não ter responsabilidade nenhuma,
gosto de saltar entre pontes,
de viver entre o que sou e o que quero ser.
Gosto das cócegas que tenho ao pensar que sou livre,
essa percepção abstracta faz-me rir
desalmadamente.
Gosto do tempo ser rápido demais para as minhas mãos
mas também gosto de ter os meus pés a andarem à frente do tempo.
Ando pelos dias sem ter pressa mas a pressa também não me tem.
É neste estar tranquilo que se vai fazendo noite e vão vivendo lá as estrelas.
Aqui, deste local onde estou no mundo,
não há preocupação que inquiete a minha paciência, por isso,
vou me deixando estar.
Talvez um dia me mude e leve para lá o meu corpo também.
Vou esperar que chegue sábado.

terça-feira, maio 4

PARADOXO FINGIDO

Sonho ser menos que o pó da estrada
referido em tempos por alguém que admiro.
Não sou digno de passos de gente sobre mim,
nego-me a dar sentido ao caminho de quem desconheço,quero apenas o título de sem-nome.
Sonho ser menos que poça de água em dia de chuva forte a erguer-se do fundo de um chão.
Não quero o risco de ser parte de um arco-íris.
Recuso-me a ser cor ou a ser confundido com qualquer coisa.
Aspiro somente à irresponsabilidade,
sonho vestir tranquilamente a irrelevância, só não sei o que isso significa.


imagem google
SOL NA ILHA


Olhar-te é escrever versos do poema perfeito.
Quero construir contigo uma obra completa.

terça-feira, abril 27

CALA-TE NA MINHA PELE

Cala-te na minha pele.
Faz uso dessa liberdade que ostentas orgulhosamente,
do silêncio desenhado na textura dos teus lábios
a fingir ser abstracto.
Hoje, as palavra são excesso,
quero que sejas páginas em branco,
está tudo escrito no meu corpo.

Sentes-me tremer em intensidade?
É um segredo líquido que trago a escorrer-me pelo peito,
e que se evapora enquanto desce.
Quero contar-te tudo,
guardá-lo bem dentro de ti.
Abre-me o teu abraço e prende-me.
Levarei tudo o que me pertence,
deixarei para trás o inverno para me aventurar
nesse sonho quente.
Já despi a noite para o viver.
Acolhe-me.
Cala-me na tua pele.

domingo, abril 18

SAUDADES

Há quase um ano não´screvo.
Pesada a meditação
torna-me alguém que não devo
interromper na atenção.

Tenho saudades de mim,
de quando, de alma alheada,
eu era não ser assim,
e os versos vinham de nada.

Hoje quanto faço,
´screvo sabendo o que digo...
para quem desce do espaço
este crepúsculo antigo?


Fernando Pessoa