quarta-feira, maio 27

S U B M I S S Ã O . . .

Quero as tuas mãos atadas atrás das costas,

MELHOR...

Quero a tua alma inteira atada às minhas mãos...

O CORPO...

Que trema, ao avanço dos meus desejos...

SUBMISSA...

Desfaz-te em liquidez,


GELADO...

a escorrer-me pela boca...

quinta-feira, maio 21

DOGMA

E se eu existisse sem alma,
fosse assim...
só corpo, veias em ebulição,...
sangue a fervilhar, só vermelho em carne, sem sentir.
E se eu fosse só pele a tremer, ritmo sufocado, dobrado em nervos.

E se eu fosse decifrável? Transparente como me querem?
Se me ajoelhasse e fizesse do mundo o meu altar,
se meus pecados fossem eco soprado pelos quatro ventos?
E se eu pudesse ser desmembrado pelo olhar mais inocente,
se fosse a minha nudez vulnerável a qualquer toque...

E se eu existisse como um dogma?
CANSAÇO

"Há um cansaço da inteligência abstracta, e é o mais horroroso dos cansaços. Não pesa como o cansaço do corpo, nem inquieta como o cansaço do conhecimento e da emoção. É um peso da consciência do mundo, um não poder respirar da alma"

Fernando Pessoa; "Autobiografia sem Factos"

sábado, maio 16

URGÊNCIA

Quero-te com urgência como se o tempo se esgotasse.
Como se o amanhã se estivesse a desvanecer
encostado a uma parede qualquer pintada de cobardia.
Quero-te com urgência, como se me faltasse o ar,
como se tivesses que fazer das tuas mãos lâmina,
rasgar-me a pele para dar ritmo ao meu respirar.

Quero-te com urgência agora,
mesmo que seja escuro.
Só é noite sem teus lábios acesos em mim...
Quero AGORA, unir-me a ti como peça de um puzzle,
quero SER contigo.

Quero viver-te por trás porque os anjos não têm costas.
Morder-te para sobreviver não te faz mal...
Quero agora.

sábado, maio 9

ESCREVER

Gosto de escrever porque as palavras permitem-me fazer delas o que quiser, não é que não goste de uma boa luta de vez em quando, não é que queira sempre controlar tudo mas sim porque a passividade que as preenche permite-me reinventá-las ao sabor da minha imaginação. Porque posso personificar o mundo inteiro e todas as coisas e atribuir-lhes características, dar-lhes sentimentos e estados de alma. E isso só depende das asas da minha imaginação, depende do seu tamanho e de até onde conseguem voar.

Gosto de escrever imaginando porque assim não preciso de regras. Como nunca mas ensinaram e nunca me obriguei a aprendê-las sou inocente. Sinto que a minha imaginação é por isso mais importante que esse conhecimento, porque imaginando, inventando e reinventando vou confundindo, e confundindo não sou percebido, ás vezes nem eu mesmo me percebo, e por não perceberem pensam sempre que sei muito.

Gosto de imaginar muito.

sexta-feira, maio 8

TIMIDEZ

No teu olhar a minha timidez ganha forma.
O tempo concede-me o passado e refugio-me nele.
Escondo-me feito criança envergonhada,
quer o doce, não pede, mas dá a entender.

Baixo os olhos, estendendo-os ao nível do chão,
já sou arrepios à volta da alma,
sou pele suada a arder em vulnerabilidade,
a personificação da própria inércia.

Teu olhar é arma que dispara sem balas,
é a ponte para o outro lado da minha nudez,
vive aí a fragilidade, no meio do escuro
onde divide o quarto com a inoperância.

Está frio aqui, neste querer tocar-te,
perdida a batalha, porque falta a convicção,
amordaçado no peito o grito do desejo.

Um dia deixarei de ser criança,
vou esbarrar o meu olhar no teu e esvair-me em firmeza.
Não será hoje... Hoje sou todo timidez.

terça-feira, maio 5

TEMPO

Quero um corpo para o tempo.
um rosto que lhe faça sentir VERGONHA,
braços que conheçam a AUSÊNCIA de um abraço,
olhos que CHOREM de saudade,
pernas para querer chegar e NÃO PODER....

Quero que o tempo tenha alma,
QUE SINTA PENA,
que sangre de REMORSOS.
que lhe DOA a existência toda,
que GRITE de SOLIDÃO...

Quero o tempo em CORPO e ALMA,
para o JULGAR, QUESTIONAR E CONDENAR.
para o APRISIONAR,

Quero ESTAR LIVRE do tempo...