"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares... é o tempo da travessia, e se não ousarmos fazê-la teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos". (Fernando Pessoa)
sexta-feira, dezembro 1
Um pensamento encalhado no porto das memórias,
Uma onda que não chega a atingir a praia,
Um raio de sol que não aquece o chão,
O beijo que não humedece os lábios,
Um abraço que não toca a alma,
Um corpo que ama sem encaixar,
Um olhar que se perde sem ver
Subsiste;
A liberdade presa em coisa alguma,
Porque existem canetas que só escrevem
E melodias sem letras que lhe dêem voz...
Cresce;
O amanhã pendente,
O odor de saudade a libertar-se no presente.
O estar de mim ausente,
(Porque me tornei líquido
E me dei a beber a ti, loucura...)
Transformei-me num desejo mal calculado,
(Engarrafado) e agora vomitas-me em litros...
O resultado;
Andar sem chegar ou entao não querer chegar
(Para evitar ter andado)
Querer estar perdido ou então não se chegar a encontrar
(Para nunca se ter perdido)
Muita confusão na cabeça desta tinta que me sangra...
Existem segundos que nunca chegam a passar e é aí que quero ser...
INEXISTIR PELA MANHÃ
No caminho runo à aceitação da responsabilidade diária que me é destinada, à velocidade do comboio a passar pelas estações, apressadamente, passa também um pensamento que para mim tem tanto de original como de irrealizável e absurdo.
Hoje apetecia-me inexistir de manhã. Suspender a minha existência por um período de tempo calculado até que o sol deixasse de estar mal disposto e acordasse para a vida com a intensidade que lhe é característica. Aceitando o facto do seu aparecimento diário ser incontornável, tal como eu assumir aquelas responsabilidades que me obrigo a realizar para não vestir o fato do "parece mal", pelo menos que sorria de manhã e não acorde com os raios fora do céu.
Poderia aparecer na vida perto da hora de almoço, mesmo a tempo de aperitivo que lhe precede...
O REGRESSO do que nunca foi
Ansiosamente esperava pelo dia em que conseguisse libertar-me da preguiça onde estava enjaulado e pudesse voltar a preeencher folhas em branco.
Como sei que a ânsia, na maioria das vezes, é prejudicial, esperei que passasse. Hoje escrevo sem ânsia, sem desespero, sem qualquer tipo de motivação excedente e sem qualquer objectivo que possa me confidenciar.
Apeteceu-me e pronto. Sentei-me e escrevi. Aqui estou eu. Eu que me ature, vocês não são obrigados.