terça-feira, março 18

ENSAIO ESTRANHO...

Estranhamente estranho me sinto hoje, como se eu fosse estranhamente estranho sempre, isto é, todos os dias. Não me sinto com estranhas intenções, o que é estranho por si só, isolado de tudo o que é resto. Se assim estou, estranhas seriam ou deveriam ser também as minhas intenções que, contudo, são nenhumas.

Explicar esta estranha sensação parte de mim e até mim chega, parece que estou fora do mundo, das pessoas e parece-me estranho que assim seja. É como se eu estivesse numa parte do mundo onde estranhamente as pessoas não me pertencessem ou então eu não as pertencesse porque me consideram estranho e tal facto também não é de estranhar porque assim estranhas também as considero.

Observo as pessoas a andar pela rua, algumas estranhamente arrastam-se, sem andar propriamente, outras apressam-se e também é como se não andassem e é estranho para mim que não dêem passos, que os saltem e não se apercebam.

É estranho também quando observo os seus olhares, onde não me incluo, e é estranho que não me observem ou que não me sinta observado já que eu não me canso de os observar, cansa-me sim a estranheza com que os observo porque não me sai dos olhos e por isso cega-me o pensamento.

Estranho pensamento sobre as pessoas, sobre mim que também sou pessoa, embora evite muitas vezes, e a estranheza que observo sem querer ser estranho...

segunda-feira, março 17

PASSA-ME O TEMPO PELO CORPO...

Passa-me o tempo pelo corpo, sempre pelo corpo, por ele tudo passa, muito permanece.Guardo nele (em mim) todos os abraços, os toques de suavidade que a vida me vai oferecendo, também as pancadas violentas, que a mesma vida me obrigou a receber. Tenho na pele, como se fossem memórias que me acompanham, as tatuagens em forma de beijos que me adoçaram os sentires e arrepia-me na pele também aquelas cicatrizes, que foram feridas, mas nem todas estão camufladas.
Passa-me o tempo pelo corpo, pesa-me enquanto passa...Tenho o corpo na dor, tenho a dor na lágrima e essa humidade que me desce pela face, liquidamente, arrefece-me todas as esperanças.Tenho a dor no corpo e ás vezes sinto que o corpo se ausenta e fica só a dor e escondo-a com a alma. Porque a alma é enorme e abarca todo o mundo e escurece toda a dor e anestesia todos os sentires...
Passa-me o tempo todo pelo corpo, sempre pelo corpo, e pesa-me enquanto passa, mas permanece... o corpo, grande e forte...