quarta-feira, abril 26

FOLHA EM BRANCO

Apeteceu-me torturar este pedaço de folha, desenhar-lhe suavemente uma amargurada e inquietante dor.

Por todos os momentos em que servi de tela onde se pintou impiedade, hoje visto cores de sadismo. Não tenho pena da sua pureza, que não me contagia, nem da sua aparente calma sincera.

Neste vai e vem de linhas que vou preenchendo, o meu único objectivo é perfurar-lhe a paz. Apelidem-me de insano, de louco ou desvairado, minha alma é icebergue de desprezo, nas minhas veias circula apenas insensibilidade.

Neste momento, a minha libertação expressa-se nesta revolta silenciosa que ganha eco nestas palavras. Esta folha, agora inundada de agressividade, foi, ou é, a condenada do momento, mas poderiam ser outros, todos aqueles de face limpa e mente tranquila, todos os surdos da vida imperfeita.

São eles o júri, são eles os que condenam...

Foram eles quem encheu de sombras esta ex-folha branca...
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Foram estas as palavras que antecederam a idealização deste blog, minutos de intensidade em papel roubados de uma viagem de comboio tranquila entre Alverca e Entrecampos.

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